sexta-feira, 13 de maio de 2011

A Ciência da Paixão - Entrevista


Em sua terceira edição, agora sob o selo da Qualitymark Editora, a obra, cujos trechos serviram de inspiração para o livro Onze Minutos, de Paulo Coelho, traz as experiências e conversas de Antonella Zara com o seu “Eu-Superior”, a Deusa.


Entrevista com Antonella Zara: 

Para você, qual o papel da paixão na vida humana? Por quê?

Para mim, a paixão é a força vital, o desejo original, o entusiasmo divino, aquilo que nos impele a continuar vivendo. Etimologicamente, a palavra paixão significa “sofrimento” e entusiasmo é “estar em Deus”. Mais além, a palavra latina emoção significa “estar em movimento” ou “colocar em movimento”. Muitos filósofos vêem a paixão como uma ilusão perigosa, cientistas a atribuem a uma química passageira. Já o xamanismo ancestral do Kalahari sugere que o amor tem em si tanto a dor agonizante quanto e alegria libertadora. O budismo nos mostra como podemos ter contato com a energia pura, a essência das emoções. Enfim, para mim, a paixão em sua forma mais sutil é a energia pura, algo assim como a transcendência das emoções, esta essência mais profunda, a maior intensidade e profundidade que somos capazes de sentir, ali onde amor e dor se mesclam e se tornam inseparáveis da experiência humana. As nossas vivências mais importantes, o nascimento, o crescimento, a morte, a missão espiritual, os grandes amores, tudo isso é movimentado por esta energia da paixão.

 Quem é o seu “Eu-Superior”? Quando foi que você percebeu a sua primeira manifestação?

Em 1999, aos 26 anos, eu fiz a minha primeira pereginação. Durante 50 dias, caminhei sozinha os 800 km do Caminho de Santiago de Compostela. Aquela viagem mudou a minha vida. Durante a caminhada observei em mim pequenas mudanças de percepção nas quais fiz a experiência de conceitos místicos e filosóficos que eu apenas conhecia através dos livros. A teia da vida, por exemplo, sobre a qual o físico Fritjof Capra fala em um de seus livros, que seria algo assim como a visão da interligação ecológica de todos os eventos que ocorrem na Terra, da qual fazemos parte, um conceito recorrente nos ensinamentos místicos, deixou de ser apenas um conceito durante aquela viagem. Comecei a fazer a experiência daquilo, tomar consciência de que se tratava de um fato incontestável. Percebi isso de uma forma muito prática. Depois da peregrinação tive uma úlcera na córnea, quase fiquei cega e passei por fortes tribulações emocionais. No centro da dor, tive uma experiência mística. Fiquei duas semanas em estado de enlevo, plena de energia e entusiasmo, com uma sensação profunda de reverência em relação à vida. Foi nesta época que percebi que havia entrado em contato com uma camada mais profunda de meu ser. Sem saber exatamente do que se tratava, comecei a procurar livros sobre o assunto a achei uma vasta documentação sobre este tipo de fenômeno. Para mim, foi uma espécie de despertar. Tudo mudou. De repente, ficou muito claro que eu estava realmente aqui para servir a humanidade. Começou então o processo bem difícil, mas também muito interessante, de descobrir qual a melhor maneira de fazer isso.

Por que “Deusa”?

Alguns falam de Deus, outros de Eu-Superior, eu escolhi reverenciar o lado feminino do Grande Mistério, sabendo que, obviamente, “o mapa não é o território”. Os nomes são apenas descrições, tentativas humanas de comunicar aquilo que é incomunicável.

É possível a manifestação do “Eu-Superior” em todas as pessoas? Como?

Claro, sem dúvida alguma. É um caminho individual. Há tantos caminhos como existem pessoas no mundo. Mas, também é claro que algumas pessoas e certos estudos podem nos inspirar e ajudar muito em nosso caminho espiritual. Eu tive e continuo tendo muitos mestres. Atualmente, estudo muito o budismo tibetano, traduzo para os mestres de minha escola e pratico diariamente as meditações budistas, mas também pesquiso o xamanismo e a magia. Sou muito curiosa e estou sempre aberta a aprender. 

Qual a receita para viver apaixonado e feliz?

     Essa pergunta me lembra a inscrição encontrada no Templo de Delfos, na Grécia Antiga, que dizia: “Conhece-te a ti mesmo… e conhecerás o Universo e os deuses.” Tenho também que pensar em uma linda canção de Lenine que se chama “Mais Além”. Uma das estrofes diz: “O homem sobre a areia como era no início, roçando duas pedras, uma em cada mão. Descobre a fagulha que incendeia o paraíso, e imaginou que havia inventado Deus. É mais, é mais, é mais, é mais, é mais além” Pois é, eu acho que é preciso ir mais além. Sempre. Nunca achar que sabemos de algo. Sempre abrir-nos ao desconhecido em nós, nos outros, na própria vida. Se não estamos em contato com a nossa paixão, é imprescindível ir em busca dela.  “Siga o seu êxtase”, dizia Joseph Campbell. É disso que fala a Ciência da Paixão.

Você, em vários trechos, cita o escritor Paulo Coelho. Ele foi uma de suas inspirações ao escrever seu livro? Por quê?

Tive a grande honra de conhecer o Paulo pessoalmente. Foi graças a uma série de coincidências, um momento muito mágico de minha vida. Ele é um dos meus grandes mestres, um homem que segue o próprio êxtase, um escritor que fala daquilo que está mais além. Quando escrevi a “Ciência da Paixão”, enviei o livro para ele. Ele leu e imediatamente me escreveu que o havia adorado. Pediu para usar trechos do meu livro para ilustrar o diário da personagem principal de seu romance “Onze Minutos”. No posfácio do livro, ele me agradece por isso. Para mim, foi uma bênção e um grande sinal de que eu deveria continuar escrevendo.

Quem mais a inspirou?

A própria vida foi a minha maior inspiração. A paixão em todas as suas manifestações. A minha mãe, que muito cedo me ensinou que “o amor é tudo”. Nunca me esqueci disso. Eu sempre vivi a minha paixão intensa e profundamente, resolvi estudá-la, não descansar enquanto não despertasse aquela paixão sagrada da qual falam os místicos. Neste estudo, muitas vezes me perdi, quase morri, mas não me arrependo. O poeta e místico sufi Rumi, que viveu no século 13, escreve em um de seus poemas: “Cada átomo, Feliz ou miserável, Gira apaixonado, Em torno do Sol.” Para mim, não é possível viver plenamente sem fazer a experiência disso, sem conhecer empiricamente esta verdade fundamental.

Deixe um recado para seus leitores.

“A Ciência da Paixão” é um livro simples, escrito em estilo coloquial. Eu o escrevi em um pequeno quarto de hotel na Espanha, logo depois de ter me separado de um relacionamento de dez anos. Foi uma grande conversa comigo mesma, como acontece às vezes entre duas amigas muito íntimas. Ou seja, é um livro fácil de ler. Depois que o escrevi, muita coisa aconteceu. No livro, escrevi uma carta pedindo para encontrar o meu “Príncipe Encantado”. Um ano depois, eu o encontrei. Agora estamos juntos há nove anos, viajamos muito - juntos e separados - e já fizemos três rituais de casamento. “A Ciência da Paixão”, como estudo e busca espiritual, não é um caminho fácil. É um caminho fascinante e, por isso mesmo, ele é perigoso. Pode ser fatal, mas também pode ser maravilhoso. Enfim, certos livros salvaram a minha vida e me inspiraram, me motivaram a seguir caminhando. Por isso, hoje sou escritora. Eu escrevo por gratidão e por paixão. O meu sonho é que as minhas palavras sejam sementes eclodindo em flores de amor nos corações das pessoas.

Sobre a autora:


Antonella Zara
Nasceu no Rio de Janeiro e escreveu seu primeiro livro aos oito anos de idade. Aos 14, mudou-se com a família para a Alemanha, onde terminou o primeiro e o segundo graus. Depois de viajar pela Europa trabalhando, lendo e escrevendo, aprofundou-se no estudo de filosofia, psicologia, tarô, xamanismo e meditação. Trabalha há alguns anos como tradutora e intérprete para monges de budismo tibetano. Foi intérprete de xamãs e de renomados profissionais na área de PNL no Brasil e no exterior. Atualmente reside no sul da Bahia, onde se dedica plenamente ao ofício de escrever.

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