No quotidiano há situações em que tendemos a considerar o ‘todo’ (“o conjunto da obra”) em detrimento de uma análise detalhada das ‘partes’. O desfile das escolas de samba, por exemplo, é um desses momentos. Enquanto milhões de pessoas estão encantadas com a tela em sua frente (a escola como um ‘todo’ na avenida), alguns pares atentos de olhos e ouvidos, que poderíamos chamar de foliões-julgadores, estarão interessados em uma análise minuciosa de cada uma das partes desse imenso quadro.
Enquanto milhões de mortais estão encantados com as cores, com o ritmo, com a energia, com a empatia produzida pela escola de samba ‘A’ ou ‘B’, normalmente de forma remota - pela TV ou pela Internet, alguns seres – também mortais – assumem o dever de fatiar o imenso desfile em dez pedaços (bateria, enredo, samba-enredo, harmonia, comissão de frente, alegoria, fantasia, conjunto, evolução e mestre-sala e porta-bandeira), avaliando – isoladamente – um desses pedaços (ou quesitos) dentro de uma perspectiva (por vezes) diferente daquela usada por milhões de pessoas.
Enquanto a maioria esmagadora dos espectadores toma como referência seu entendimento particular em relação aos quesitos, os julgadores possuem parâmetros que, embora relativamente subjetivos, norteiam sua interpretação, seu entendimento do assunto e sua opinião e julgamento.
Mais do que isso: enquanto o público em geral se esmera em defender a escola de samba ‘C’ ou ‘D’, pelas razões ‘E’ ou ‘F’, um conjunto pequeno de cidadãos estará pontuando e justificando as notas que não atingiram o patamar de 10,0 (nota inicial de qualquer escola, em qualquer quesito).
Enquanto o cidadão comum exercita sua ‘passionalidade’ diante de um desfile de escola de samba – o direito e/ou o dever de ser passional – o julgador – isoladamente ou como membro de um comitê – exercita a análise técnica do seu quesito, desnudando-se de preferências e, mais do que isso, de algumas crenças, costumes ou valores. No momento da avaliação, cada julgador representa os interesses do conjunto das escolas de samba, sendo fiel depositário da confiança de cada uma delas. Procedimentos estatísticos podem atenuar – ou eliminar – desvios, mas não serão suficientes para conter negligência, imprudência ou imperícia.
Em ‘posts’ anteriores apresentei algumas questões sobre os indicadores ‘quantitativos’ e ‘qualitativos’, dentro do contexto Organizacional e fora desse contexto, no ambiente que regula, por exemplo, os desfiles das escolas de samba. Apresentei outro ‘post’ sobre avaliações ‘absolutas’ e ‘relativas’ vinculadas aos indicadores, também envolvendo o ambiente carnavalesco. Há, nessa perspectiva, muita contribuição dos que estudam e desenvolvem ações no campo da gestão. Experiências podem transitar do ambiente organizacional tradicional, para o ambiente carnavalesco, e vice-versa.
A discussão de temas do ambiente carnavalesco, fora do contexto da cultura e do entretenimento, pode em muito contribuir para a profissionalização do carnaval, tornando-o, cada vez mais, uma fonte regular e estruturada de trabalho e renda. A inclusão do carnaval do Rio de Janeiro, como um dos eixos da economia, tal como salienta Luiz Carlos Prestes Filho em seu livro, pode e precisa ser ampliada. O mundo da Administração pode, em muito, contribuir para esse desenvolvimento.
Os ‘posts’ são aperitivos de um prato principal que poderá vir na forma de fóruns, workshops e congressos sobre o assunto. Uma atmosfera que abriga “Lailas”, “Paulos Barros”, “Renatos Lages”, “Miltons Cunhas” e tantos outros, exige uma infraestrutura de gestão do tamanho das alegorias que enfeitam nossas avenidas.
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