quarta-feira, 16 de março de 2011

Artigo: Indicadores produzidos por avaliação absoluta e relativa. Por Marcelino Tadeu de Assis


Postei recentemente um texto que abordava a questão dos indicadores “quantitativos” e “qualitativos” envolvendo o desfile das escolas de samba. Na ocasião apresentei algumas reflexões sobre as características de cada uma dessas categorias, bem como exemplos que poderiam tornar os conceitos mais claros. A efervessência dos comentários, logo após a abertura dos envelopes, me trazem novamente ao tema, dessa vez para trocar ideias sobre as avaliações que são “absolutas” e sobre as que são “relativas”. Tomo a liberdade de me apropriar desses dois termos para lapidar o que vimos anteriormente.

 
Alguns comentários publicados na imprensa deixam claro o desconforto que o processo de julgamento; de avaliação – qualquer que seja ele – produz em cada um de nós. Em maior ou menor escala, o desconforto é parte do processo de julgar, de decidir, de avaliar, tanto para os que avaliam, como para os que são avaliados. De uma forma geral, não incomoda a avaliação, por si só – na medida em que avaliamos tudo e todos ao longo da vida, mas sim à necessidade de dar ‘feedback’ sobre tais percepções ou, em alguns casos, sobre as conseqüências que tais julgamentos ou considerações podem trazer.

Há indicadores produzidos por avaliações que tomam como referência o resultado ou o fenômeno em si, comparativamente a uma determinada expectativa ou parâmetro, independentemente dos demais resultados ou fenômenos. Quando se diz, em relação aos desfiles de escolas de samba, que há um tempo mínimo e um tempo máximo de exibição, temos em mãos uma variável absoluta (tempo) a ser considerada, diante de uma referência numérica (intervalo de tempo). Havendo exigência, por exemplo, de 3 a 5 alegorias em um determinado grupo, nova verificação será realizada no sentido de observar se a quantidade apresentada na avenida encontra-se dentro do intervalo permitido no regulamento. Os profissionais que lidam com a metodologia “seis sigma” chamam tal situação de “passa ou não passa” (atende ou não ao critério determinado). 

Há também indicadores produzidos por avaliações relativas, em que o “bom” pode ser superado pelo “ótimo” e, este último, pelo “excelente”. É o caso em que não há um padrão explicitado de forma objetiva, mas sim um conjunto de referências que orienta o olhar ou o ouvido dos julgadores (no caso das escolas de samba). As avaliações relativas exigem que o julgamento da parte (uma escola de samba) considere o todo (o conjunto dos desfiles realizados). Uma bateria muito boa em cadência e ritmo, por exemplo, pode ser superada por outra que, além da cadência e do ritmo, deu um passo a frente; apresentou uma convenção que produziu um melhor efeito percussivo.

Enquanto o Diego Hipólito, por exemplo, é julgado ao final de sua apresentação (avaliação relativamente absoluta), independentemente dos que se apresentaram antes ou irão se apresentar depois dele, o julgamento da “harmonia” de uma escola depende da “harmonia” das demais. Enquanto o Rodrigo Pessoa, no hipismo, é avaliado ao longo de sua apresentação, considerando-se o trajeto, o tempo e o desempenho da dupla (cavalo e cavaleiro) ao longo do percurso, as “alegorias” são avaliadas ao final do desfile, considerando-se o conjunto das “alegorias” apresentadas. Uma escola que trouxe boas alegorias poderá ser superada, em décimos, por outra que deu um passo além e trouxe ao desfile “alegorias” com melhor acabamento ou integração à proposta do enredo, por exemplo. 

Em avaliações relativas (comparativas) – como regra – sempre haverá nota máxima, ao contrário do que ocorre quando a avaliação é absoluta. Avaliações absolutas permitem que o julgador observe o esportista, artista ou fenômeno a ser avaliado, isoladamente.  Avaliações relativas, por outro lado – e como o nome indica – são comparativas.  Dependem de/do quem/que já passou e de quem/que ainda virá. 

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