sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Artigo: Emoções, elas direcionam sua vida. Por Eugênio Ferrarezi

        Ouvimos dizer que somos “seres racionais” quando na verdade somos “seres emocionais” com momentos de racionalidade. Estudos da neurociência do comportamento mostram que agimos e reagimos aos acontecimentos de forma emocional, no entanto acabamos nos arrependendo de forma racional. Quantas vezes nos arrependemos por uma repreensão mais severa a um filho, a ofensas a pessoas que amamos, por atitudes desequilibradas em momentos onde dizemos ter “perdido o controle”. Na realidade perdemos o controle da nossa razão levados por um desequilíbrio que ocorre no mundo das nossas emoções.
      Mas afinal, o que vem causando um volume cada vez maior de casos de estresse, conflitos familiares entre casais, filhos, aborrecimentos crescentes no trabalho, rompimento de amizades, e tantos outros comportamentos desagradáveis?
      O que será que vem acontecendo com a tal inteligência emocional, cada vez mais em baixa e afetando o comportamento e desenvolvimento das pessoas?
      
DESEQUILÍBRO EMOCIONAL E MUDANÇAS ACELERADAS
        A humanidade experimentou nas últimas três décadas uma expansão fantástica, nunca antes verificada em sua história. Fomos atropelados pelo ritmo frenético imposto pela tecnologia dos computadores nos mais variados segmentos de nossas vidas.
       Neste mundo de mudanças aceleradas, pessoas desesperadas assistem suas profissões desaparecerem, então abandonam seus diplomas e carreiras e buscam novas alternativas.
       Estas mudanças, muitas vezes, acabam gerando um sentimento de incapacidade por não conseguirem se adaptar rapidamente. Como consequência, há uma reação emocional inconsciente que se manifesta na forma de sentimentos de insegurança e ansiedade, gerando auto cobrança, sentimento de baixa autoestima. 
      Este descontrole emocional causa uma tensão interior entre a vontade de reagir e um sentimento de alerta causado pelo mundo interior das emoções, então em estado de alerta.  Este conflito mina a vontade natural de agir na direção da conquista de objetivos e sonhos, fazendo brotar um sentimento de incapacidade e desânimo, muitas vezes manifestados em forma de estresse, depressão, insônia etc.

COMO SURGE O DESEQUILÍBRIO EMOCIONAL
     Nosso lado racional tem uma íntima conexão com o lado da mente consciente, enquanto o lado emocional está ligado à nossa mente inconsciente. Estudos mostram uma dominância desta mente inconsciente sobre a consciente. 
     Mas afinal o que é mente consciente e mente inconsciente?
     Consciente é a parte da mente onde temos a consciência do que se passa no momento presente, enquanto mente inconsciente é onde todo conteúdo de nossa vida foi sendo armazenado. Neste momento, se você se lembrar de um professor ou professora que teve grande influência em sua vida, acabou de trazer este conteúdo de seu mundo inconsciente para o consciente.
       Esta mente inconsciente é atemporal e não faz distinção entre um fato real e um fato criado por nossos pensamentos de forma subjetiva. Por exemplo, você já se emocionou ao assistir a um filme?  Você já assistiu ao mesmo filme e pela segunda vez emocionou-se novamente?  Pois bem, há pessoas que compram o DVD para se emocionarem sempre, não é? Racionalmente falando, não há lógica se emocionar ao assistir atores “morrendo ou sofrendo” durante o filme. Racionalmente sabemos que é apenas um filme.  Situação ainda menos racional é assistir ao mesmo filme pela segunda vez e novamente se emocionar pelas mesmas situações.
       Desta forma nossos sentimentos são frutos de estímulos externos a este mundo interior onde habita nossas referências de como agir ou reagir às situações futuras.  Neste mundo particular estão armazenadas as influências de nossos pais, avós, tios, professores etc., pois é na fase até 9 anos que ocorre a formação de referências dominantes, fase esta onde a criança não possui referência racional alguma e aceita tudo sem muito questionamento. 
       Esse aprendizado será determinante no comportamento do futuro adulto, na forma como irá enfrentar futuras situações de desafios.

COMPORTAMENTO, INFLUÊNCIAS E DISTORÇÕES DE ACONTECIMENTOS DO PASSADO
       O processo de aprendizagem é potencializado por uma incrível capacidade de generalização do cérebro. Por exemplo, ao sentir o fogo queimar pela primeira vez ao acender um fósforo, uma criança generaliza e evita o fogo vindo do fogão, da churrasqueira, da vela.  Não é preciso ela se queimar de inúmeras formas diferentes para evitá-las.
       Esta capacidade de generalização por um lado é útil e por outro lado, poderá originar  comportamentos indesejados devido às referências de acontecimentos passados.
      Na fase adulta, a mente inconsciente continua a utilizar todos os registros e experiências do passado para desencadear estados comportamentais de ação ou reação diante desafios e momentos de decisões, comportamentos esses voltados à preservação da integridade humana no momento presente. Vamos supor uma criança na fase de formação de suas referências comportamentais é tolhida quando tenta se comunicar e por diversas vezes ouve “cala a boca” e estes estímulos desencadeiam emoções de medo, raiva e tristeza, emoções estas associadas ao ato de se expressar e registradas pelo inconsciente. O tempo passa e este registro permanece, e quando o adulto tenta se comunicar em público, o inconsciente aflora estes sentimentos refletindo na fisiologia, mal estar, medo e receio de passar por algo semelhante. Na maioria das vezes não se lembra do fato origem daquele sentimento limitante, mas como já dissemos, o mecanismo de autopreservação da mente inconsciente leva o indivíduo a ter o comportamento de evitar se expressar para não experimentar novamente o sentimento desagradável que teve na infância.
      Lembre-se, o inconsciente é atemporal e um aprendizado ocorrido na infância é generalizado para situações semelhantes do presente e o mecanismo de auto preservação aciona a emoção do medo gerando a ação de fuga da situação que se passa no presente.

EMOÇÕES E SENTIMENTOS – A ORIGEM DO SENTIMENTO DE REALIZAÇÃO OU  FRUSTRAÇÃO.
Enquanto a emoção é este processo complexo desencadeado no mundo inconsciente, podendo ser nitidamente observada pelas suas manifestações corporais, o sentimento é a percepção desse conjunto de mudanças internas que dependendo dos registros e referências do passado podem desencadear ação ou apatia.
O sentimento tem um caráter particular e único a cada indivíduo. A emoção da raiva pode trazer a um indivíduo um sentimento de revolta e apatia levando-o a fugir da situação que deu origem à emoção, enquanto para outro a mesma raiva pode desencadear um sentimento de vontade em enfrentar a situação e criar alternativas e ações específicas para resolver o problema e então superar o sentimento original e sentir-se recompensado.
Todo comportamento, toda ação, todo pensamento tem como elemento propulsor uma emoção. Na maioria das vezes a emoção determinante de uma ação não é percebida, mas está presente mesmo nas pequenas ações. Por exemplo, o ato de se alimentar acontece motivado pela emoção do prazer percebido (que se sente) ao satisfazer a fome.
Existem situações nas quais é criada grande expectativa em relação a um evento ou a pessoas. Esta expectativa tem por trás a satisfação de uma emoção e quando esta não é satisfeita, dizemos estar frustrados e arrependidos. Estes sentimentos surgem quando não fazemos uma análise de resultados e evidências intermediárias para readequar a expectativa inicial. Se esta readequação de expectativas e emoções não for feita, no final a frustração poderá ser grande, pois esta é a diferença entre esta expectativa e o resultado obtido.

                                               Frustração = Expectativa – Resultado Obtido

A atenção aos fatores geradores dos estados de frustração é determinante para se evitar sentimentos duradouros de insatisfação gerados nos relacionamentos e o consequente sofrimento desnecessário.

VOCÊ PODE ASSUMIR O CONTROLE E MUDAR SENTIMENTOS CONSCIENTES DESAGRADÁVEIS, JÁ OS SENTIMENTOS INCONSCIENTES SÃO MAIS COMPLEXOS.  

É possível a mudança de sentimentos desagradáveis, quando sua origem é bem determinada. Para isso, é fundamental esclarecer os fatos que deram origem ao incômodo para evitar que estados emocionais desagradáveis  não sejam frutos de pensamentos e pressupostos criados pela subjetividade do inconsciente. Se não houver a ação de esclarecimento, esse estado interno manterá todo o sistema orgânico em alerta, os sentimentos desagradáveis permanecerão, a paz interior é destruída e o raciocínio lógico fica comprometido.
         No entanto se a origem do sentimento não é bem definida, o processo para se livrar do sentimento de incômodo requer o apoio de profissionais especializados.  Estes sentimentos surgem por meio de estímulos externos que despertam registros traumáticos do passado que estavam adormecidos. Um som, uma imagem, um fato semelhante podem acionar este gatilho.
Há casos em que pessoas dizem: “não fui com a cara deste sujeito” ou “não gostei deste lugar” ou ainda “isto me cheira mal” e muitas vezes quando buscam maiores informações, chegam à conclusão que foram injustas nas suas avaliações.

2 comentários:

QMK Blog disse...

Via Facebook:
Itajara Leão de Souza diz: Muito interessante o artigo do Eugênio. Recomendo a leitura.
sexta às 22:52

QMK Blog disse...

Via Facebook:

Sônia Martinez diz: Muito interessante o artigo...quando identifico minha emoção posso tomar conta de meu comportamento...

sexta às 23:51 ·

Ines Cozzo Olivares diz: gostei da escolha da palavra, ou melhor, expressão "tomar conta" ao invés do que verbo usado pela maioria das pessoas "controlar" que é beeeem perigoso qd se trata de emoções inatas do Sistema de Auto-preservação e Preservação da espécie (S.A.P.E.)
sábado às 08:49

Sônia Martinez diz:
Inês, você me ajuda a refletir sobre o que eu mesma falo...gosto disso, obrigada! Acho que 'tomar conta' de emoções, é mais do que ‘tomar consciência’ delas, é atuar, dentro do possível, sobre elas...e este possível para mim é cuidar para a emoção não se coloque à frente, no domínio... é assumir a responsabilidade não só por esta emoção, mas também pelo que a gerou, mesmo quando não sei o que foi de fato ( seria o emocional e o racional andando juntos?). Penso que emoção não é mesmo uma coisa que eu possa ou deva controlar...muitas vezes, ela vem nem sei de onde e nem porquê, não é? Tomar conta de minhas emoções para mim, é viver de forma simples...não complicar o que já é complexo...E é um desafio nem sempre fácil de alcançar...mas se consigo, é bom para mim, é bom para o outro.

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